O que é um Family Office e como funciona?

05/11/2024

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“Exige-se uma grande dose de ousadia e de cautela para fazer uma grande fortuna, e quando você a possui, leva-se dez vezes mais para mantê-la.” – Mayer Rothschild

Acumular patrimônio não é fácil, requer muito esforço, sacrifício e disciplina. E uma vez que a riqueza é construída, mantê-la requer novas competências.

Muitos hábitos recomendados para o acúmulo de capital já não são mais recomendados para preservação e transmissão aos descendentes.

Partindo deste ponto, desdobram-se dois principais problemas, (i) a manutenção do poder de compra do patrimônio para cumprimento das necessidades financeiras e dos objetivos familiares (ii) a sucessão do patrimônio para herdeiros.

Neste texto, vamos explicar o que é um Family Office, para que serve, seus tipos e como ele ajuda na preservação e sucessão do patrimônio familiar.

O Que É um Family Office?

Um Family Office é uma estrutura privada voltada para a gestão integrada e personalizada do patrimônio de uma família. Criado para atender famílias de alta renda, ele fornece serviços que vão desde a administração de investimentos até o planejamento sucessório e tributário, ajudando a preservar e expandir o patrimônio para gerações futuras.

Contexto Histórico: A Origem do Family Office

O conceito de Family Office surgiu no século XIX, com famílias ricas dos Estados Unidos e Europa que constituíam suas próprias equipes para administrar grandes fortunas.

A família Rockefeller, por exemplo, criou seu Family Office em 1882. Desde então, o modelo se expandiu globalmente e evoluiu para atender não apenas à gestão financeira, mas também à governança familiar, planejamento sucessório e filantropia.

Hoje, o Family Office continua a ser uma estrutura essencial para famílias de alta renda, especialmente em contextos econômicos e familiares complexos. Além de permitir uma gestão personalizada e confidencial, ele oferece suporte estratégico para que famílias possam preservar e expandir seu legado para as próximas gerações.

Como Funciona Um Family Office?

O Family Office atua como uma “empresa de gestão familiar”, cuidando de todos os aspectos financeiros e administrativos da família. Entre os serviços principais estão:

  • Gestão de Investimentos: Cuidar das carteiras de investimento, buscando crescimento e preservação do patrimônio.
  • Planejamento Fiscal e Sucessório: Estruturar o patrimônio de forma a reduzir a carga tributária e facilitar a sucessão.
  • Gestão de Ativos Imobiliários e Privados: Administrar propriedades e investimentos em empresas privadas.
  • Consultoria em Governança Familiar: Estruturar conselhos familiares e processos de tomada de decisão para evitar conflitos.
  • Serviços Pessoais e Administrativos: Inclui o pagamento de contas, contratação de seguros e administração de estilo de vida.

Alguns Family Office ainda oferecem serviços de gestão/consolidação das contas bancárias, educação para herdeiros, fusões e aquisições e concierge para viagens, grandes aquisições, etc.

Tipos de Family Office

Existem dois tipos principais:

  1. Single Family Office (SFO): Atende exclusivamente uma única família, garantindo confidencialidade e controle total. É geralmente indicado para famílias com grande patrimônio, já que exige recursos elevados para sua manutenção.
  2. Multi-Family Office (MFO): Atende múltiplas famílias, oferecendo serviços personalizados com custos compartilhados. É uma alternativa acessível para famílias de médio e alto patrimônio que buscam um nível de serviço semelhante ao Single Family Office.

Quando se chega neste ponto, fica dúvida em qual estrutura devo ir, essa pergunta depende do tamanho do patrimônio, nível de conhecimento e qual nível de esforço percebido pela família.

No Brasil, geralmente pode ser recomendado a constituição de um Single Family Office a partir dos R$ 200 milhões.

Essa faixa de patrimônio é considerada necessária para justificar alguns custos tais como a atração e retenção da uma boa equipe, taxa de gestão (administração e custódia), licenças de softwares, gestão de imóveis, consultorias, etc.

Já para patrimônio menor, o Multi Family Office geralmente é a melhor relação custo-benefício. Para serviços mais básicos, como gestão de investimentos e suporte administrativo, algumas estruturas começam a atender a partir de R$ 5 milhões.

Para MFOs que oferecem uma gestão mais personalizada e completa, incluindo planejamento sucessório, fiscal e governança familiar, o patrimônio mínimo geralmente se aproxima de R$ 50 milhões.

Mas isso são só parâmetros e dependendo da constituição do patrimônio da família o SFO pode fazer sentido abaixo do patrimônio mencionado.

Por Que Criar um Family Office ou Contratar um Multi Family Office?

Segundo o Family Office Report Brasil 2019 as principais motivações para a constituição de FO foram:

Fonte: Family Office Report Brasil 2019

A decisão de estruturar um SFO ou contratar um MFO é geralmente impulsionada por desafios e eventos específicos de cada família. De maneira abrangente as principais motivações incluem:

  1. Sucessão e Planejamento Geracional: A continuidade do legado entre gerações é um desafio essencial para muitas famílias. Para evitar conflitos e garantir que o patrimônio seja transferido de forma organizada, o Family Office oferece suporte em governança e planejamento sucessório. Segundo estudo do Credit Suisse1 70% das famílias com maior poder aquisitivo relatam problema com sucessão.
  2. Venda ou Transformação do Negócio Familiar: A venda total ou parcial de uma empresa familiar é outro fator comum para a criação de um Family Office. Esse processo permite que as famílias separem seu patrimônio pessoal do empresarial, reinvestindo de forma estratégica e protegida os ganhos da transação​.
  3. Profissionalização da Gestão Patrimonial: Com o aumento da complexidade do mercado financeiro, muitas famílias buscam uma gestão de ativos mais profissional, que inclua diversificação de investimentos e proteção de ativos. Conforme apontado no Global Family Office Report 2024, muitos Family Offices concentram-se em maximizar retornos e mitigar riscos em um cenário global cada vez mais incerto​.
  4. Fortalecimento da Governança Familiar: A criação de um Family Office também ajuda a manter a unidade e o alinhamento entre os membros da família. A maioria dos Family Offices no Brasil conta com Conselhos de Família, que centralizam as decisões e promovem a coesão familiar​.
  5. Gestão de Riscos e Segurança do Patrimônio: Com a instabilidade econômica global, os Family Offices são criados também para proteger o patrimônio contra a volatilidade do mercado, garantindo uma gestão eficiente dos riscos fiscais e financeiros​.

Conclusão

Estamos diante da maior transferência de riqueza da história moderna: até 2029, um montante estimado em US$ 8,6 trilhões passará de uma geração para outra nas famílias mais abastadas do mundo. Apesar de sua inevitabilidade, a sucessão patrimonial ainda é um terreno desafiador para muitas dessas famílias.

Estudos apontam que 70% das famílias enfrentam dificuldades durante a transição de liderança e patrimônio, enquanto 67% indicam a sucessão e o planejamento de herança como grandes fontes de preocupação.

Para preservar o legado, a estratégia precisa ir além da simples transferência de ativos. É essencial uma abordagem de Wealth Planning que garanta a continuidade e sustentabilidade da riqueza familiar – um processo que envolve não só o patrimônio, mas a governança, os valores e a visão de futuro.

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